Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um.
Mateus 13.8
Uma boa terra
Dificuldade nunca foi uma palavra presente na vida de Carolina, pois sempre teve tudo o que precisava. Uma boa família, vida financeira estável, amigos, estudava no melhor colégio do Estado onde morava; aparentemente, nunca lhe faltara nada. Mas o problema não estava no seu exterior: estava dentro dela.
Carolina era uma pessoa aparentemente completa, mas sentia um vazio dentro de si. Ela sabia que, no fundo, nada do que ela tinha poderia preencher aquele vazio que a tornara uma pessoa tão triste e amargurada. Foi então que, por influência de amigos, começou a usar drogas.
De início, para se acostumar, a maconha era a sua única opção, até que chegou a usar drogas mais pesadas. Carolina passava dias e noites fumando e injetando drogas em suas veias, chegando a ficar tão alterada que perdia a noção de onde estava e o que estava fazendo. As semanas passavam e ela mergulhava cada vez mais fundo no universo dos narcóticos, envolvendo-se com pessoas que arriscavam suas vidas com a mesma diversão.
Além das drogas ilícitas, a bebida também tornou-se um de seus vícios. Seu comportamento, cada vez pior, preocupava os pais, que acabaram por descobrir o que a filha andava fazendo. Carolina tornou-se muito agressiva, a ponto de ameaçar de morte sua mãe, após esta descobrir um pacote com vários comprimidos de LSD em sua bolsa.
Aos poucos os objetos e dinheiro da família foram desaparecendo, pois Carolina os usava como moeda de troca para sustentar seu vício. Depois de alguns meses de tormento, seus pais a internaram à força em uma clínica de reabilitação. Tudo o que tinham passaram a gastar com o tratamento da filha, não importando se algum dia viessem a perder tudo. A recuperação de Carolina era mais importante do que carro, dinheiro, joias e tudo o mais que tivesse valor financeiro para eles.
Sem as drogas Carolina ficava cada vez mais angustiava, pois era nelas que afogara durante tanto tempo todos os sentimentos negativos que vinha guardando em seu peito. Aquela sensação de euforia e felicidade a deixava longe de tudo o que a oprimia, mas era tudo passageiro. Ela sabia disso, o que a levava a entrar nesse buraco tão escuro e sem saída que as drogas representam.
A recuperação de Carolina não era aparente, mas os pais continuavam investindo tudo o que tinham em sua recuperação. Aos poucos a família perdia seus bens, chegando a ficar somente com a casa onde moravam e alguns móveis, além de sobreviver com o pouco que lhes restava para se alimentarem. Quando tudo parecia andar conforme a música, algo marcante acontece em suas vidas.
Depois de três meses internada, Carolina conseguiu fugir da clínica de reabilitação e se escondeu na casa de um de seus amigos. Daquele mesmo lugar tramou um atentado que colocaria em risco a vida de toda a sua família. O sentimento que se apoderara dela naquele momento era de vingança, pelo fato de seus pais terem-na deixado afastada das drogas durante todo esse tempo.
À noite, seu irmão sentiu um cheiro estranho vindo dos fundos de casa e resolveu levantar-se e chamar os pais. O fogo já tinha se alastrado por todo o quintal; até o cachorro da família naquele momento já estava carbonizado. Carolina pôs fogo em sua própria casa com a ajuda dos amigos, a fim de se livrar da família
que tanto odiava.
A família de Carolina conseguiu fugir, apesar de ter havido perda total da casa. Tudo o que lhes restava virou cinzas, e o desespero tomou conta de seus corações. Vendo tudo o que estava acontecendo, Carolina caiu em si e em profunda amargura chorou, como nunca havia chorado antes. Custava-lhe acreditar que tudo aquilo fora obra de suas mãos.
Sem casa e sem bem material algum, a família sentiu-se obrigada a refugiar-se na casa de parentes. Carolina, envergonhada pelo que tinha feito, fugiu novamente na noite do incêndio e passou a viver nas ruas, voltando a usar drogas e envolvendo-se com a criminalidade. Seu estado era deplorável; quem a visse naquela situação nunca acreditaria que um dia ela teve tudo o que para os olhos humanos era tudo.
Um dia, de longe, Carolina avistou um grupo de pessoas, muito bem vestidas, distribuindo algum material para os moradores de rua. Uma mulher bem apessoada chegou até ela e lhe entregou uma espécie de folhetim, e disse a ela algo que não conseguia acreditar. Como uma pessoa como ela poderia voltar a ter a vida que tinha? Como aquele vazio que havia dentro de si poderia ser preenchido? Será mesmo que aquela pessoa perversa na qual tinha se tornado poderia ser transformada, a ponto de se tornar uma pessoa doce e amigável? Nada do que via ou ouvia até então poderiam fazê-la crer que tinha solução para sua vida, mas o brilho que havia nos olhos daquela mulher e as palavras que saíam de sua boca eram tão verdadeiros e tão fortes que Carolina passou a ter motivos para ter esperança. Algo dizia em sua mente que algo extraordinário estaria para acontecer.
Naquele folhetim havia um endereço, e Carolina resolveu ir até esse lugar para encontrar a mulher de olhos brilhantes e lhe perguntar como fazer para ter uma vida diferente. Desde então, a mulher que a evangelizara passou a orientá-la conforme a Palavra, e Carolina foi colocando em prática tudo o que lhe era ensinado. Sua presença naquele lugar tão cheio de paz era constante, e a sua vida foi se transformando de uma forma inigualável. Dentro de si havia uma força tão sublime que não importava o que estava acontecendo consigo, porque a certeza da vitória fazia-se presente de uma forma muito forte. Seu vazio já não era problema, porque o Espírito Santo havia lhe tirado do abismo profundo em que ela se encontrava e a transformara numa nova criatura.
Sua família, que estava à sua procura, a encontrara e ficaram maravilhados com a sua transformação. Hoje, Carolina vive uma vida de qualidade: foi-lhe restituído tudo o que lhe foi tirado, está livre das drogas, vive em harmonia com a família e ajuda outras pessoas que estão passando pelos mesmos problemas com os quais tanto sofreu. A cada dia, Carolina cresce na graça e no conhecimento de Cristo, até a Sua volta.
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O coração de Carolina é como a boa terra: a semente foi plantada, germinou, criou raiz, cresceu e deu fruto. Mas nada disso teria acontecido se ela não tivesse recebido a Palavra com um coração sincero. Carolina sabia que não era uma boa pessoa - havia tirado dos pais grande parte dos seus bens, ameaçou e odiou a família, entorpeceu-se com todos os tipos de drogas e quase cometeu um triplo assassinato -, mas o desejo de ter sua vida transformada chamou a atenção de Deus, o que Lhe deu plena liberdade para agir.
A boa terra, ao contrário da beira do caminho, recebe a semente e permite que ela germine. Ao contrário do solo rochoso, tem profundidade suficiente para que a semente crie raiz. E ao contrário do terreno espinhoso, tem seu território limpo para que a semente, quando crescer, não seja sufocada. Para que alguém se torne uma boa terra, é necessário que deixe de ser como as outras três. E foi exatamente isso o que aconteceu com Carolina.
Camila Vasconcelos
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Nota: Luísa, Daniela, Poliana, Laura e Carolina são personagens fictícias.