Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se.
Mateus 13.5,6
Solo rochoso - Inconstância
Daniela nasceu em um lar conturbado. Seu pai alcoólatra abandonou a família quando ela tinha 14 anos, e a partir de então sua mãe iniciou uma jornada de muitas lutas para criar os três filhos.
Em um dia qualquer desse período que parecia ficar cada vez pior, Daniela conheceu Poliana, uma garota exemplar com a qual estudaria até o último ano do ensino médio. As duas tornaram-se grandes amigas e compartilhavam suas experiências, fossem elas boas ou ruins.
Poliana era cristã e Daniela sabia disso. Durante uma de suas conversas, Daniela abriu o coração e, com muita vergonha, contou tudo o que estava acontecendo em sua vida. Poliana, por sua vez, contou a ela como era a sua vida, como foi seu processo de conversão e como deu-se tamanha transformação em sua vida. Daniela custou acreditar em suas palavras, pois a amiga parecia ser uma pessoa perfeita, como se nunca tivesse enfrentado problema algum. A curiosidade em saber como a vida de Poliana deu toda essa reviravolta levou Daniela a aceitar o convite que foi feito pela amiga na semana anterior.
Chegando à igreja, Daniela sentiu que aquele era um lugar diferente e que Poliana tinha razão em gostar de tudo aquilo. As pessoas eram felizes; alguns, vestidos com uma espécie de uniforme, sentavam-se ao lado das pessoas e pareciam ouvi-las com paciência. Uma bela música tocava ao fundo, e aos poucos Daniela foi integrando-se àquele ambiente que era um verdadeiro paraíso aos seus olhos. Até que o pastor colocou-se diante do púlpito e iniciou o culto.
Aquela manhã de domingo fora especial. A Palavra de Deus tocou tão fundo no seu coração que a levou às lágrimas. Durante toda a semana seguinte, Daniela não se cansava de dizer o quanto tinha gostado dessa experiência e desde então passou a frequentar a igreja todas as semanas. Poliana estava feliz por ver a amiga tão envolvida com as coisas de Deus, e tinha a certeza de que a partir daquele primeiro domingo Ele estava trabalhando em sua vida.
Os dias passavam e Daniela continuava frequentando a igreja. Chegou a participar do grupo de louvor, pois tinha uma voz tão doce que cativava toda e qualquer pessoa que a ouvia. Adotou os costumes da igreja, chegando até mesmo a mudar o seu modo de falar e agir diante das pessoas. Todos os que a viam reconheciam-na como uma cristã tão exemplar quanto Poliana, até o momento em que a sua fé foi posta à prova.
Sua casa tornara-se um ambiente cada vez mais insuportável. Sua mãe estava diferente, não era mais aquela pessoa amorosa e compreensiva que sempre fora. Constantemente criticava sua fé, dizendo que se isso bastasse elas não estariam vivendo da forma como estavam. As dificuldades financeiras e os conflitos familiares pareciam não ter fim. A família morava de aluguel, e como não houve pagamento nos três meses anteriores a ordem de despejo estava próxima. Daniela finalmente teve de encarar sua dura vida real, e sem demora o desespero tomou conta de seu coração.
Os dias seguintes já não eram mais os mesmos. A pressão dentro de casa para que ela abrisse mão da sua fé era tão intensa que Daniela chegava a gemer por conta da dor que sentia na alma. A aflição era visível no seu rosto e aos poucos deixava o medo e as dúvidas tomarem conta do seu ser. Afinal, se Deus realmente existia, por que permitiu que ela passasse por tudo isso? Por que não lhe deu o livramento antes mesmo que a dor e o desespero invadissem o seu coração? Todos aqueles dias na igreja tinham sido maravilhosos; cada palavra que ouvia eram como remédio para sua alma, assim como as canções que Davi retirava de sua harpa eram para Saul. Mas naquele momento nada a deixava crer que havia esperança, nem mesmo os louvores que costumava cantar e os conselhos que ouvia de Poliana.
Essa situação chegou ao extremo quando Daniela terminou o ensino médio. Suas idas à igreja tornavam-se cada vez menos frequentes, e Poliana já não era uma companhia agradável. O sentimento que a envolvia era um misto de fraqueza, desânimo e tristeza. Não demorou muito para que ela abrisse mão da sua fé, passando a agir como se Deus não se importasse nem um pouco com a sua vida.
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O solo rochoso a que se refere a passagem em questão possui um palmo de terra cultivável, mas por baixo existe uma camada profunda de concreto. Um solo assim não impede que a semente brote e até cresça, mas impede que crie raiz. Se não há raiz, mais cedo ou mais tarde irá morrer.
O coração de Daniela, diferente do de Luísa, aparentemente não era endurecido. Enquanto Luísa negava a qualquer custo a Palavra, Daniela a aceitou no primeiro dia em que colocou os pés na igreja. Toda aquela excitação dos primeiros dias indicavam a sua verdadeira natureza, que era puramente carnal. Sua vida cristã regada a sentimentos não a deixara refletir sobre o que realmente significava seguir a Jesus, e com isso seu desenvolvimento foi apenas aparente. Por fora Daniela era uma árvore grandiosa, florida e cheia de vida, mas por dentro não tinha raiz que a sustentasse. Então veio o sol - as dificuldades, a pressão, as perseguições - e a queimaram.
Mas existe saída para um coração como esse?
Por experiência própria, só existe uma saída: nascer de novo. Repensar seus conceitos, ver se realmente sua vida de cristão está produzindo frutos e se a sua experiência com Deus não é só um misto de emoções e excitação momentânea. Eu comecei a perceber a presença desses sinais na minha vida quando as dificuldades e aflições começaram a aparecer, e demorei a entender que eu era uma planta sem raiz. Uma boa dose de sinceridade e humilhação diante de Deus são o primeiro passo, e pode até parecer doloroso no começo, mas isso é só um sinal de que o concreto que está por baixo daquela terra fofa está começando a se quebrar e dando lugar a uma terra fértil, onde a semente plantada criará raiz, crescerá saudável e dará fruto.
Camila Vasconcelos
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