sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O dia em que dei um chega pra lá na ditadura da beleza

A web está se expandindo de forma tal que encontramos conteúdos para todos os gostos. Entre os milhões de blogs e sites existentes hoje, encontramos milhares deles sobre moda e beleza, e não raro conhecemos pelo menos uma pessoa que os acessa. Trata-se de um grupo seleto de pessoas que escreve sobretudo para mulheres, contando sobre suas experiências com determinados produtos, as últimas tendências da moda, o que as celebridades estão usando, formas de deixar seu corpo em forma, entre outros assuntos que pouco ou nada nos edificam.

Costumo dizer que a exaltação da aparência, do "belo", do físico, desde os tempos mais remotos tem sido uma praga devastadora na humanidade. As mulheres buscam atrair compulsivamente para si os olhares masculinos e a admiração de outras mulheres, e isso gera uma constante insatisfação que as fazem buscar mais e mais atenção para os seus dotes físicos, como se fosse uma droga. Muitas delas se afundam num vício tão profundo que acabam por se autodestruir, tornando-se marionetes nas mãos dessa indústria que rende cada vez mais a cada ano que passa.
No fundo, a busca por uma aparência perfeita vem de um histórico de insegurança e complexos que rondam a mente humana. Talvez, na infância, a garotinha teve que conviver com piadinhas acerca de um "defeito físico" seu. Por ser gordinha, ou branquinha demais, ou magrinha demais, ou não se vestir de uma forma mais "descolada", ela não conseguia encontrar seu espaço na sociedade mirim em que ela vivia. Em casa, não havia ninguém que a colocasse no colo e a ajudasse a enxergar a vida de outra forma que não fosse somente pelo olhar estético. E ao crescer, busca nesse mundão afora o que nunca encontrou em casa, na escola ou em qualquer outro lugar: vai para a frente do espelho, adquire uma falsa personalidade e vai à luta em busca do espaço que ela não conseguiu conquistar na infância: status. Considerando que estamos na era digital, ela começa a sua jornada aqui mesmo, na web; afinal, aqui ela encontra mil possibilidades de se tornar aquilo que sempre queria ser. E assim prossegue a sua vida até chegar o momento em que se autodestrói.

Blogs de moda e beleza, assim como revistas que tratam do mesmo assunto, por vezes se esquecem dessa questão. Não estou querendo generalizar, pois ainda existem pessoas conscientes do seu poder de influenciar outras pessoas e que por isso devem ter cuidado com o que postam, falam ou twittam por aí. O fato é que, por mais que existam conteúdos essencialmente profissionais - boa parte usa desse artifício para divulgar seus serviços voltados a esse segmento -, essa onda de informação feminina está levando uma multidão de mulheres a buscarem na aparência um refúgio para as suas fraquezas, seus dilemas, seus problemas. Tudo porque as levam, mesmo sem perceber, a enxergar tudo pela ótica da estética.

Eu me pergunto quando é que alguém vai parar para pensar no que está acontecendo, chegar a uma conclusão sensata e disseminá-la por aí, para que chegue ao maior número de pessoas possível. Sonho com o dia em que as famílias se preocuparão com a saúde emocional de nossas garotas, além da saúde física. Penso como seria se a mídia não reprimisse tanto as mulheres, fazendo-as com que deem mais atenção ao desenvolvimento de sua mente do que com o desenvolvimento de seus corpos. Podemos fazer isso hoje, agora, destruindo os espelhos imaginários que estão espalhados pelo caminho.

A partir daqui, eu, Camila Vasconcelos, dou um basta à influência da ditadura da beleza sobre mim.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A parábola do semeador aplicada à juventude - Parte 4

Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um.
Mateus 13.8

Uma boa terra

Dificuldade nunca foi uma palavra presente na vida de Carolina, pois sempre teve tudo o que precisava. Uma boa família, vida financeira estável, amigos, estudava no melhor colégio do Estado onde morava; aparentemente, nunca lhe faltara nada. Mas o problema não estava no seu exterior: estava dentro dela.

Carolina era uma pessoa aparentemente completa, mas sentia um vazio dentro de si. Ela sabia que, no fundo, nada do que ela tinha poderia preencher aquele vazio que a tornara uma pessoa tão triste e amargurada. Foi então que, por influência de amigos, começou a usar drogas.

De início, para se acostumar, a maconha era a sua única opção, até que chegou a usar drogas mais pesadas. Carolina passava dias e noites fumando e injetando drogas em suas veias, chegando a ficar tão alterada que perdia a noção de onde estava e o que estava fazendo. As semanas passavam e ela mergulhava cada vez mais fundo no universo dos narcóticos, envolvendo-se com pessoas que arriscavam suas vidas com a mesma diversão.

Além das drogas ilícitas, a bebida também tornou-se um de seus vícios. Seu comportamento, cada vez pior, preocupava os pais, que acabaram por descobrir o que a filha andava fazendo. Carolina tornou-se muito agressiva, a ponto de ameaçar de morte sua mãe, após esta descobrir um pacote com vários comprimidos de LSD em sua bolsa.

Aos poucos os objetos e dinheiro da família foram desaparecendo, pois Carolina os usava como moeda de troca para sustentar seu vício. Depois de alguns meses de tormento, seus pais a internaram à força em uma clínica de reabilitação. Tudo o que tinham passaram a gastar com o tratamento da filha, não importando se algum dia viessem a perder tudo. A recuperação de Carolina era mais importante do que carro, dinheiro, joias e tudo o mais que tivesse valor financeiro para eles.

Sem as drogas Carolina ficava cada vez mais angustiava, pois era nelas que afogara durante tanto tempo todos os sentimentos negativos que vinha guardando em seu peito. Aquela sensação de euforia e felicidade a deixava longe de tudo o que a oprimia, mas era tudo passageiro. Ela sabia disso, o que a levava a entrar nesse buraco tão escuro e sem saída que as drogas representam.

A recuperação de Carolina não era aparente, mas os pais continuavam investindo tudo o que tinham em sua recuperação. Aos poucos a família perdia seus bens, chegando a ficar somente com a casa onde moravam e alguns móveis, além de sobreviver com o pouco que lhes restava para se alimentarem. Quando tudo parecia andar conforme a música, algo marcante acontece em suas vidas.

Depois de três meses internada, Carolina conseguiu fugir da clínica de reabilitação e se escondeu na casa de um de seus amigos. Daquele mesmo lugar tramou um atentado que colocaria em risco a vida de toda a sua família. O sentimento que se apoderara dela naquele momento era de vingança, pelo fato de seus pais terem-na deixado afastada das drogas durante todo esse tempo.

À noite, seu irmão sentiu um cheiro estranho vindo dos fundos de casa e resolveu levantar-se e chamar os pais. O fogo já tinha se alastrado por todo o quintal; até o cachorro da família naquele momento já estava carbonizado. Carolina pôs fogo em sua própria casa com a ajuda dos amigos, a fim de se livrar da família
que tanto odiava.

A família de Carolina conseguiu fugir, apesar de ter havido perda total da casa. Tudo o que lhes restava virou cinzas, e o desespero tomou conta de seus corações. Vendo tudo o que estava acontecendo, Carolina caiu em si e em profunda amargura chorou, como nunca havia chorado antes. Custava-lhe acreditar que tudo aquilo fora obra de suas mãos.

Sem casa e sem bem material algum, a família sentiu-se obrigada a refugiar-se na casa de parentes. Carolina, envergonhada pelo que tinha feito, fugiu novamente na noite do incêndio e passou a viver nas ruas, voltando a usar drogas e envolvendo-se com a criminalidade. Seu estado era deplorável; quem a visse naquela situação nunca acreditaria que um dia ela teve tudo o que para os olhos humanos era tudo.

Um dia, de longe, Carolina avistou um grupo de pessoas, muito bem vestidas, distribuindo algum material para os moradores de rua. Uma mulher bem apessoada chegou até ela e lhe entregou uma espécie de folhetim, e disse a ela algo que não conseguia acreditar. Como uma pessoa como ela poderia voltar a ter a vida que tinha? Como aquele vazio que havia dentro de si poderia ser preenchido? Será mesmo que aquela pessoa perversa na qual tinha se tornado poderia ser transformada, a ponto de se tornar uma pessoa doce e amigável? Nada do que via ou ouvia até então poderiam fazê-la crer que tinha solução para sua vida, mas o brilho que havia nos olhos daquela mulher e as palavras que saíam de sua boca eram tão verdadeiros e tão fortes que Carolina passou a ter motivos para ter esperança. Algo dizia em sua mente que algo extraordinário estaria para acontecer.

Naquele folhetim havia um endereço, e Carolina resolveu ir até esse lugar para encontrar a mulher de olhos brilhantes e lhe perguntar como fazer para ter uma vida diferente. Desde então, a mulher que a evangelizara passou a orientá-la conforme a Palavra, e Carolina foi colocando em prática tudo o que lhe era ensinado. Sua presença naquele lugar tão cheio de paz era constante, e a sua vida foi se transformando de uma forma inigualável. Dentro de si havia uma força tão sublime que não importava o que estava acontecendo consigo, porque a certeza da vitória fazia-se presente de uma forma muito forte. Seu vazio já não era problema, porque o Espírito Santo havia lhe tirado do abismo profundo em que ela se encontrava e a transformara numa nova criatura.

Sua família, que estava à sua procura, a encontrara e ficaram maravilhados com a sua transformação. Hoje, Carolina vive uma vida de qualidade: foi-lhe restituído tudo o que lhe foi tirado, está livre das drogas, vive em harmonia com a família e ajuda outras pessoas que estão passando pelos mesmos problemas com os quais tanto sofreu. A cada dia, Carolina cresce na graça e no conhecimento de Cristo, até a Sua volta.

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O coração de Carolina é como a boa terra: a semente foi plantada, germinou, criou raiz, cresceu e deu fruto. Mas nada disso teria acontecido se ela não tivesse recebido a Palavra com um coração sincero. Carolina sabia que não era uma boa pessoa - havia tirado dos pais grande parte dos seus bens, ameaçou e odiou a família, entorpeceu-se com todos os tipos de drogas e quase cometeu um triplo assassinato -, mas o desejo de ter sua vida transformada chamou a atenção de Deus, o que Lhe deu plena liberdade para agir.

A boa terra, ao contrário da beira do caminho, recebe a semente e permite que ela germine. Ao contrário do solo rochoso, tem profundidade suficiente para que a semente crie raiz. E ao contrário do terreno espinhoso, tem seu território limpo para que a semente, quando crescer, não seja sufocada. Para que alguém se torne uma boa terra, é necessário que deixe de ser como as outras três. E foi exatamente isso o que aconteceu com Carolina.


Camila Vasconcelos
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Nota: Luísa, Daniela, Poliana, Laura e Carolina são personagens fictícias.

sábado, 7 de maio de 2011

A parábola do semeador aplicada à juventude - Parte 3



E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.
Mateus 13.7

Entre espinhos

Histórias de superação e transformação de vidas são comuns hoje em dia, e Laura faz parte desse grupo. Conhecer Jesus e viver para Ele era o seu desejo desde o dia de sua conversão, e ela o buscava com todas as forças até que um dia aconteceu o que tanto esperava. Sua vida mudou radicalmente; aquela garota que outrora era tão rebelde e sem direção transformou-se numa pessoa tranquila e cheia de amor. Laura definitivamente passou a ser um testemunho vivo da misericórdia e grandeza de Deus.

Um dos sonhos de Laura era ser bem-sucedida profissionalmente, e aos poucos isso foi acontecendo. Desde então, sua vida financeira tem sido grandiosamente abençoada, o que lhe dava condições de ajudar aos outros e investir na obra de Deus. Reconhecendo sempre o que Ele estava fazendo em sua vida, Laura agradecia e Lhe dava todo o crédito, sabendo que tudo aquilo não vinha tão somente do seu próprio esforço, mas era sua comunhão com Deus o elemento essencial do seu sucesso.

O tempo foi passando e Laura obtinha crescimento cada vez maior em suas finanças, e suas responsabilidades como então empresária eram muitas. Trabalhar pesado para conseguir o que quer era o seu lema desde o começo, e isso não mudou com o tempo. Aliás, tempo para ela era precioso. Cada minuto que perdia com algo que não fosse relevante poderia levá-la a perder um bom negócio, por exemplo. Sua vida dedicada ao trabalho tomava-lhe um tempo precioso que ela deveria guardar para algo que era primordialmente importante.

Sua vida espiritual começou a ficar para escanteio. Ir à igreja somente nas segundas-feiras passou a ser o bastante, afinal, ser bem-sucedida financeiramente era o mais importante. Aos poucos, o distanciamento entre Deus e Laura ficava cada vez maior, e o tempo que lhe restava para tentar manter essa comunhão passou a ser aplicado em coisas que a levariam a desistir de vez de sua fé. Amigos, festas, luxo, tudo o que Laura tinha direito passou a tomar o seu tempo e um lugar cada vez maior no seu coração.

Seu fim? Ainda não aconteceu. Mas Laura ainda não se deu conta do quanto precisa voltar para os braços de Deus. Seu coração está ocupado demais para que ela O convide para entrar.

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O coração apinhado tem um bom terreno, mas as diversas sementes que foram plantadas nele deram à semente principal, a Palavra, menos força para produzir fruto. As preocupações que esse mundo nos causa acabam por sufocar o nosso relacionamento com Deus, o que nos faz deixar de lado o que realmente é necessário para que consigamos manter aquilo que conquistamos. No caso de Laura, tais espinhos eram a sua boa condição financeira. A preocupação com o acúmulo de riquezas terrenas levou-a a crer que isso era o mais importante.

Como um coração cheio de espinhos pode voltar-se para Cristo?

Um copo sujo só se torna apropriado para uso quando é lavado. Da mesma forma, um coração cheio de espinhos precisa ser limpo para que possa ser preenchido por Deus.

... e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração (Tiago 4:8).


Camila Vasconcelos

domingo, 1 de maio de 2011

A parábola do semeador aplicada à juventude - Parte 2

Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se.
Mateus 13.5,6

Solo rochoso - Inconstância

Daniela nasceu em um lar conturbado. Seu pai alcoólatra abandonou a família quando ela tinha 14 anos, e a partir de então sua mãe iniciou uma jornada de muitas lutas para criar os três filhos.

Em um dia qualquer desse período que parecia ficar cada vez pior, Daniela conheceu Poliana, uma garota exemplar com a qual estudaria até o último ano do ensino médio. As duas tornaram-se grandes amigas e compartilhavam suas experiências, fossem elas boas ou ruins.

Poliana era cristã e Daniela sabia disso. Durante uma de suas conversas, Daniela abriu o coração e, com muita vergonha, contou tudo o que estava acontecendo em sua vida. Poliana, por sua vez, contou a ela como era a sua vida, como foi seu processo de conversão e como deu-se tamanha transformação em sua vida. Daniela custou acreditar em suas palavras, pois a amiga parecia ser uma pessoa perfeita, como se nunca tivesse enfrentado problema algum. A curiosidade em saber como a vida de Poliana deu toda essa reviravolta levou Daniela a aceitar o convite que foi feito pela amiga na semana anterior.

Chegando à igreja, Daniela sentiu que aquele era um lugar diferente e que Poliana tinha razão em gostar de tudo aquilo. As pessoas eram felizes; alguns, vestidos com uma espécie de uniforme, sentavam-se ao lado das pessoas e pareciam ouvi-las com paciência. Uma bela música tocava ao fundo, e aos poucos Daniela foi integrando-se àquele ambiente que era um verdadeiro paraíso aos seus olhos. Até que o pastor colocou-se diante do púlpito e iniciou o culto.

Aquela manhã de domingo fora especial. A Palavra de Deus tocou tão fundo no seu coração que a levou às lágrimas. Durante toda a semana seguinte, Daniela não se cansava de dizer o quanto tinha gostado dessa experiência e desde então passou a frequentar a igreja todas as semanas. Poliana estava feliz por ver a amiga tão envolvida com as coisas de Deus, e tinha a certeza de que a partir daquele primeiro domingo Ele estava trabalhando em sua vida.

Os dias passavam e Daniela continuava frequentando a igreja. Chegou a participar do grupo de louvor, pois tinha uma voz tão doce que cativava toda e qualquer pessoa que a ouvia. Adotou os costumes da igreja, chegando até mesmo a mudar o seu modo de falar e agir diante das pessoas. Todos os que a viam reconheciam-na como uma cristã tão exemplar quanto Poliana, até o momento em que a sua fé foi posta à prova.

Sua casa tornara-se um ambiente cada vez mais insuportável. Sua mãe estava diferente, não era mais aquela pessoa amorosa e compreensiva que sempre fora. Constantemente criticava sua fé, dizendo que se isso bastasse elas não estariam vivendo da forma como estavam. As dificuldades financeiras e os conflitos familiares pareciam não ter fim. A família morava de aluguel, e como não houve pagamento nos três meses anteriores a ordem de despejo estava próxima. Daniela finalmente teve de encarar sua dura vida real, e sem demora o desespero tomou conta de seu coração.

Os dias seguintes já não eram mais os mesmos. A pressão dentro de casa para que ela abrisse mão da sua fé era tão intensa que Daniela chegava a gemer por conta da dor que sentia na alma. A aflição era visível no seu rosto e aos poucos deixava o medo e as dúvidas tomarem conta do seu ser. Afinal, se Deus realmente existia, por que permitiu que ela passasse por tudo isso? Por que não lhe deu o livramento antes mesmo que a dor e o desespero invadissem o seu coração? Todos aqueles dias na igreja tinham sido maravilhosos; cada palavra que ouvia eram como remédio para sua alma, assim como as canções que Davi retirava de sua harpa eram para Saul. Mas naquele momento nada a deixava crer que havia esperança, nem mesmo os louvores que costumava cantar e os conselhos que ouvia de Poliana.

Essa situação chegou ao extremo quando Daniela terminou o ensino médio. Suas idas à igreja tornavam-se cada vez menos frequentes, e Poliana já não era uma companhia agradável. O sentimento que a envolvia era um misto de fraqueza, desânimo e tristeza. Não demorou muito para que ela abrisse mão da sua fé, passando a agir como se Deus não se importasse nem um pouco com a sua vida.

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O solo rochoso a que se refere a passagem em questão possui um palmo de terra cultivável, mas por baixo existe uma camada profunda de concreto. Um solo assim não impede que a semente brote e até cresça, mas impede que crie raiz. Se não há raiz, mais cedo ou mais tarde irá morrer.

O coração de Daniela, diferente do de Luísa, aparentemente não era endurecido. Enquanto Luísa negava a qualquer custo a Palavra, Daniela a aceitou no primeiro dia em que colocou os pés na igreja. Toda aquela excitação dos primeiros dias indicavam a sua verdadeira natureza, que era puramente carnal. Sua vida cristã regada a sentimentos não a deixara refletir sobre o que realmente significava seguir a Jesus, e com isso seu desenvolvimento foi apenas aparente. Por fora Daniela era uma árvore grandiosa, florida e cheia de vida, mas por dentro não tinha raiz que a sustentasse. Então veio o sol - as dificuldades, a pressão, as perseguições - e a queimaram.

Mas existe saída para um coração como esse?

Por experiência própria, só existe uma saída: nascer de novo. Repensar seus conceitos, ver se realmente sua vida de cristão está produzindo frutos e se a sua experiência com Deus não é só um misto de emoções e excitação momentânea. Eu comecei a perceber a presença desses sinais na minha vida quando as dificuldades e aflições começaram a aparecer, e demorei a entender que eu era uma planta sem raiz. Uma boa dose de sinceridade e humilhação diante de Deus são o primeiro passo, e pode até parecer doloroso no começo, mas isso é só um sinal de que o concreto que está por baixo daquela terra fofa está começando a se quebrar e dando lugar a uma terra fértil, onde a semente plantada criará raiz, crescerá saudável e dará fruto.

Camila Vasconcelos

sábado, 30 de abril de 2011

A parábola do semeador aplicada à juventude - Parte 1


Eis que o semeador saiu a semear. E quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda; mas vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. (Mateus 13.3-9)




À beira do caminho

Luísa não era daquelas garotas populares que desfilavam com seus modelitos novos todos os dias, mas era conhecida por boa parte dos alunos que estudavam no colégio mais tradicional da cidade. Nunca foi de se meter em confusão, nunca usou drogas, era "pura" aos olhos dos outros e tinha bom comportamento. Em casa, tinha um relacionamento distante com os pais cristãos. Os dois frequentavam uma igreja a poucos metros de casa e sempre procuraram levar a filha com eles, e às vezes Luísa até aceitava o convite que lhe era feito.

Na igreja, Luísa se afastava dos pais e procurava sentar nos últimos bancos, pois queria mandar torpedos para suas amigas durante o culto sem que os pais desconfiassem. Afinal, ela não iria ficar quase duas horas ouvindo sermão daquele pastor carrancudo que estava em cima do altar. Duas horas era muito tempo para ser desperdiçado com coisas 'sem sentido'.

Luísa vivia num mundo muito diferente das pessoas que frequentavam a igreja. Quando alguém vinha falar de Deus para ela, sua reação era simples e direta: ou desconversava, ou saía de perto. Não era do seu feitio ouvir baboseira de crente, pois aquilo não a interessava. Para ela, os fatos relatados na Bíblia eram apenas histórias e Jesus era tão somente um personagem bíblico, um revolucionário de uma época que ela não viveu e que, portanto, não fazia a menor diferença na sua vida. Aliás, esta estava seguindo o seu curso normalmente, sem maiores problemas. Pra que se preocupar?

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A beira do caminho é a representação do coração de Luísa. Seu coração duro como pedra não estava nem um pouco interessada na Verdade da Palavra, o que a levava simplesmente a negar tudo o que estava ouvindo. Melhor dizendo, Luísa não tinha nem mesmo o trabalho de ouvi-la. A satisfação com seu próprio modo de viver impedia que a semente fosse plantada no seu coração, e quanto melhor tivesse a sua vida, mais sua mente e seu coração estavam trancados para o evangelho. Ir à igreja era o seu passatempo, pois talvez ficar em casa parecesse muito chato e, além do mais, na igreja ela poderia conhecer alguém que tivesse um coração igual ao dela, e isso seria benéfico para o seu lado.

Como esse coração pode render-se a Cristo?

Parece simples, mas não é tão fácil quanto parece. Quem já tentou quebrar uma rocha sabe do que estou falando. Um grande edifício, feito com as mais firmes rochas e os mais resistentes aços que possam ser encontrados, não é demolido com tanta facilidade. Somente um terremoto muito intenso ou uma grande explosão poderiam provocar a queda desse edifício. Da mesma forma, um coração endurecido só tem chance de ser quebrantado quando um acontecimento inesperado, até mesmo uma tragédia, abala suas estruturas. Deus quer fazer desse coração sua morada, mas já que a Sua própria Palavra não está surtindo efeito nesse ser, Ele permite que os terremotos e explosões da vida sirvam como motivação para que esses corações se rendam a ele.

Camila Vasconcelos